* Bip-Bip * * Bip-Bip *
Mandei um salto da cama. Bolas, esqueci-me de pôr a porcaria do telemóvel no silêncio!
Olhei para o relógio: 9.30h da manhã. De um Domingo. Quem é que se iria lembrar de me mandar uma mensagem a estas horas?
Peguei no telemóvel e abri-a.
" Bom dia, princesa! <3 "
Oooooh... O Guilherme mandou-me uma "mensagem-despertador"...!
O meu mau humor passou-me logo, e a má cara foi substituída por um enorme sorriso.
" Bom dia!
Hoje tens alguma coisa combinada?"
Cliquei no botão "Enviar", levantei-me da beira da cama e desci as escadas a correr, até à cozinha.
- Bom dia mãe!
- Bom dia Rita. Despacha-te que temos que ir a casa da D.Ermelinda.
Oh não, por favor...
A D.Ermelinda é a antiga dona da nossa actual casa. Quando a vendeu, pediu-nos para irmos visitá-la todos os meses (sabe-se lá porquê... -.-'), e hoje era o dia. Logo hoje que ia fazer planos com o Guilherme...
- Mãe, hoje não dá para ir contigo. Tenho que ir fazer um trabalho a casa de uma colega.
- Que trabalho?
Bolas.
- Hmm... De inglês. Temos apresentação para a semana.
- Está bem, então vou andando.
Deu-me um beijo na testa e saiu. Yes!
Subi as escadas a correr, entrei no quarto a correr, e fui a correr para o telemóvel. Tinha duas mensagens. Uma era do Guilherme e outra era da Joana. Mas o que quereria ela agora, depois de tudo o que me fez? Bem, vou primeiro à mensagem do Guilherme.
" Claro que não. Hoje estou ao teu dispor :D "
Comecei aos saltos pelo quarto.
Quando finalmente parei, passados 10 minutos, respondi-lhe:
"Então vem ter a minha casa daqui a meia hora. Vamos dar um passeio pelo parque. ^^ "
Corri para o armário, escolhi a melhor roupa e fui tomar um duche rápido. Estava a entrar na banheira, quando voltei a ter outra "visão". Desta vez estava num campo deserto. Corria uma aragem fria, e tive um arrepio.De repente, vinda do nada, apareceu-me uma túnica branca no corpo.
- Olá outravez, Rita.
Olhei para cima, maravilhada.
Nunca mais tive tempo e inspiração suficiente para escrever aqui... Eu sei, estou em divida com vocês, que têm acompanhado a minha fic, mas as aulas, passatempos e deveres têm ocupado a maior parte da minha vida, e a escrita ficou um bocadinho de parte... :/
Assim que conseguir, volto a escrever e postar :D
Obrigada por lerem ^^
Joana
Pelo caminho, lembrei-me que nunca mais tinha falado com aquele ser, o chefe dos kizssos. Nunca cheguei a saber o nome dele, o que foi um erro bastante crasso da minha parte.
Pensar naquele mundo como sendo uma alternativa a este em que vivo parece-me extremamente bem. Está na altura de mudar.
Agora tenho uma dúvida muito grande: Será que posso contar à Ju isto tudo dos kizssos? Ela tem o direito de saber, se eu alguma vez decidir juntar-me, e eu não a queria, de todo, perder.
Arrisco.
- Ju…?
- Diz, Ritinha.
- Sabes guardar um segredo muito importante? Eu preciso de desabafar com alguém…
- Claro, meu amor. Por ti faço tudo. – E fez-me um largo e sincero sorriso.
- Então vamos sentar-nos ali naquele banco.
Percorremos cerca de 50 metros até ao banco mais próximo. Aí, sentámo-nos e ela fitou-me com uns olhos repletos de curiosidade e preocupação.
- Bem, lembras-te daquela noite em que dormi em tua casa? Quando sonhei que estava a ser perseguida?
- Sim lembro. Disse-te para não te preocupares com isso, amor…
- Pois, e foi o que eu fiz. Mas uns dias depois tive um sonho ainda mais perturbador… Bom, naquele caso não foi um sonho…
- Como não foi um sonho? Rita, estás a assustar-me…
- Ju, existe outro mundo para além do nosso, com outros seres, mágicos. O chefe deles teletransportou-me até ao seu mundo, e eu…
A Ju levantou a mão.
- Rita, de certeza que estás bem? Estás mesmo a preocupar-me.
- Ju, eu sei o que digo, e não estou a ficar maluca! Eu confiei em ti e é isto que me fazes? Ju, és a minha melhor amiga, por favor!
Fitou-me com olhos de quem tem pena, e foi-se embora.
Deixou-me ali.
Confiei nela, e ela deixou-me ali plantada. Magoada. E completamente sozinha.
Nem dei pelo tempo passar. Quando fui capaz de limpar alguma tristeza, levantei-me e perguntei-me porque estava eu naquele banco.
- As aulas! Oh meu deus, esqueci-me completamente!
Olhei para o relógio. Meio dia e meia. Poças, já tinha perdido um dia de aulas.
Não me restava muito senão ficar na rua até as aulas acabarem, porque provavelmente a minha mãe estava em casa para almoçar, e se sonhasse que eu tinha faltado às aulas, matava-me (literalmente).
Bom, fui dar um passeio pelo parque. Hoje tinha educação física, por isso tinha um toalhão na mala. Estendi-o em cima da relva e deitei-me, a olhar para o céu.
Pensei em tudo o que se tinha passado, desde o primeiro sonho até à facada mais forte que me podiam ter dado. As lágrimas começaram a cair-me pela cara e comecei a soluçar.
- Estás bem? Precisas de alguma coisa?
Abri os olhos. Um rapazinho franzino, mas lindo de morrer, estava debruçado sobre mim, com um grande sorriso nos lábios. Limpei as lágrimas, funguei, e levantei-me com a ajuda dele.
- Sim está.
- Sim sim, mente-me que eu gosto. – E riu-se baixinho.
- Eu nem te conheço, porque haveria de te contar o que quer que seja?
- Porque eu te vim ajudar, e porque te acho gira. – E fez uma cara séria, ainda que com um sorriso na boca.
Corei instintivamente. Não estava habituada a que me dissessem isso. Nunca ninguém me tinha dito que era gira…
- O-obrigada.
- Ahah, coraste. – E fez-me um sorriso.
- Não corei nada! És muito atrevido, pá! – E ri-me. Ele riu-se também.
Os nossos risos unidos soavam como uma melodia engraçada, ainda que desajeitada.
- Guilherme, prazer! – E beijou-me a mão. Um formigueiro percorreu-me o corpo todo.
- Ah… Rita.
Conversámos durante uma hora. Fiquei a saber que tem 17 anos, é da minha nova escola, e mora na mesma rua que eu. Dança, canta e tem aulas à tarde.
Olhei para o relógio, e reparei que eram quase duas.
- Ai caraças, já são quase duas!
- E…?
- E que a minha mãe me vai matar se eu não estiver em casa dentro de 5 minutos.
- Eu levo-te a casa. – E sorriu-me outra vez.
- Mas não tens aulas à tarde?
- E tu não tinhas aulas de manhã?
- Sim, mas eu tive um problema…
- Então e eu vou-me baldar à primeira aula. Levo-te a casa e não há discussão.
Levantámo-nos os dois da toalha, arrumei-a na mochila, e começámos a andar. A meio do caminho, ele abrandou o passo, e parou. Olhei para trás. Tinha uma flor estendida na minha direcção.
- Guilherme, é… Linda.
- Não é tão linda como tu.
Começou a avançar para mim. Ficámos cara a cara. Sentia a respiração dele tocar levemente a minha boca. Começou por ser suave e delicado, mas depressa o beijo se tornou fugaz e forte. O meu coração disparou, e senti um calor a subir-me dos pés à cabeça. Não sei quanto tempo estivemos assim, ligados, mas soube-me a pouco. Quando parámos, fui eu a primeira a falar.
- És sempre assim com todas as raparigas que conheces?
- Não. Mas tu não és só uma rapariga que eu conheci. És a rapariga que eu conheci.
- Desculpa Guilherme, mas tenho mesmo que ir…
- Eu levo-te, Rita. Mas antes… Dá-me o teu número.
- E tu o teu.
Trocámos os números, e ele levou-me a casa, de mão dada comigo. Quando chegámos, reparei que o carro da minha mãe já não estava à porta. Dirigi-me a ele, dei-lhe um beijo de despedida, e entrei em casa.
Início do ano lectivo
Todas as manhãs eram iguais, mas esta manhã foi particularmente diferente: Acordei com a mesma dor de costas de sempre, por ter caído do meu adorado somier, com uma rede de mosquitos pendurada por cima (para o estilo, estão a ver?). Sinto-me uma autêntica princesa lá dentro, o pior é quando a gravidade é mais forte que eu. Não sei como é que ainda não desloquei um ombro. O que teve então a manhã de especial? A queda de hoje foi espectacular, tendo em conta que posicionei uma revista com O (e repito, O) Robert Pattinson na capa, no sítio onde a cara ia cair. Quando acordei e levantei a cara, tive uma visão espectacular (e fiz o típico sorrisinho babado de uma adolescente. Não é o que sou?)
Bom, tudo isto para dizer que… Comi Waffles ao pequeno-almoço. Daqueles com doce de (qualquer coisa que não identifiquei) por cima. Nhami…!
A campainha tocou. Deve ser a Ju. Olhei para o relógio, como quem não quer a coisa, e vi que ela hoje tinha vindo muito cedo. Fui até à porta, ainda a arrastar os pés e, literalmente, a babar-me com o waffle na mão, e dei à chave.
-Bom dia, Rita! – Disse-me ela muito animada.
- Porra pá. – Foi a única coisa que me saiu, e mesmo assim foi num tom de grande desprezo. Este momento era mais para reflectir no waffle babado.
- Bem, que animação…
- Ya… Chervida? – Tinha acabado de por um bocado do Waffle na boca, e dei-lhe um bocado, que ela rejeitou imediatamente.
- Por favor, Rita! Babaste toda para o Waffle e depois ofereces? E o que é que ainda fazes nesse estado? Tens noção das horas que são?
Fiquei completamente imóvel à frente, a pensar coisas do tipo “vai gozar com outra” e “o que tinha eu na cabeça quando a escolhi como melhor amiga?”. Depois dei uma última trinca no Waffle.
- Hoje acordei com a cara virada para o Robert, e por isso estou especialmente babosa. Esclarecida?
- Não. Mas também não interessa, explicas-me enquanto te estiveres a vestir.
Mal tinha acabado a frase, já me estava a empurrar escadas acima. Ela ia muito direita atrás de mim, mas eu ia a tropeçar nos degraus, e subia quase de três em três.
- Bom, vamos lá ver o que tens aqui. Calças, calças, calças… Um vestido!
Oh não. Oh não. OH NÃO. Aquele vestido não. Por favor, porquê eu? Que mal fiz eu à humanidade?
- Ju. Nem. Penses. Nisso.
- Porque não? O vestido é tão giro!
- Mas em que século é que viveste? XVII? Esse padrão simplesmente dá-me… Vómitos.
Sabem aquele padrão dos cortinados da “Música no Coração”? Era ainda pior. Era floreado, e tinha cores como amarelo fluorescente, verde alface, castanho, rosa choque… Sim, eu sei, aquele vestido devia estar num sítio que eu cá sei, mas era da minha mãe e ela quis que eu ficasse com ele. Ideia péssima. Terrível. Não havia ideia pior. Por isso é que ele estava nos confins do meu armário.
- Ju, nunca na vida eu irei vestir isso. – Peguei num par de calças. – Vês? Isto sim é roupa. – E peguei no vestido com as pontas dos dedos. – Isto é um cortinado da casa da minha bisavó que cheirava a mofo (não a casa, a minha bisavó).
- Pronto, tu é que sabes.
Amuou. Ai que paciência, meu deus!
- Ju, se quiseres dou-te o vestido…
- A sério? – Os olhos dela começaram a brilhar. Oh deus.
- Claro. É toodo teu. Já me posso vestir?
- Sim. – Disse-me, com um sorriso na cara.
Fui até à casa de banho, lavei-me, lavei os dentes, pus creme na cara, e vesti as minhas calças brancas e o meu top azul-turquesa. Quando voltei ao quarto, era a Ju que se estava a babar, mas para aquele vestido foleiro.
- Vamos?
- Sim. Obrigada pelo vestido.
- Eu é que agradeço. – Este era um daqueles momentos em que poria um xD à frente da minha fala, se esta fosse escrita.
E lá fomos nós para a escola.
Bem, não há nada para fazer, vou ao Hotmail. 4 mensagens que se não reenviar morro, 3 para que uma menina ganhe dinheiro ao reenviar (não sei porque já recebo este email há anos e a foto ainda é a mesma)… Bom, a esta hora, já morri três vezes, caiu-me uma escada na cabeça dez e perdi o amor da minha vida 5 vezes. Não há nada mais revitalizante.
Pus um sorriso na cara, desliguei o computador e mandei-me para cima da cama. Fiquei a olhar para o tecto. De repente, comecei a ver tudo turvo, e quando dei por mim, estava no meio de uma selva. Não podia estar a dormir. Peguei numa pedra que ali estava, e usei a ponta mais aguçada para me arranhar. Gritei tão alto que consegui ouvir o meu eco pela floresta dentro durante cerca de 20 segundos. Eu… não estava… a dormir… Mas como? Como é que aquilo é possível?
Olhei em volta. Aquela floresta era linda…Demasiado bela para estar num pesadelo. As árvores eram de um verde resplandecente, as flores selvagens abanavam com a aragem e no topo das árvores viam-se todo o tipo de animais selvagens: Pássaro, macacos, e muitos outros que nem tentei identificar.
Decidi andar um bocado para explorar aquela magnífica paisagem que estava à minha frente… Mal mudei o pé de sítio, tropecei. Mas que coisa! Quando é que será que este desequilíbrio estúpido me deixa em paz? Sempre a tropeçar em tudo…
- Está aí alguém? – perguntei eu, apenas tendo como resposta o meu eco.
Tentei lembrar-me do motivo pelo qual estava ali, e como não sabia, era melhor ter cuidado com o que fazia. Fui andando pela floresta, apreciando a paisagem, olhando em volta e imaginando como seria viver aqui… Era tudo tão belo que nem tinha palavras para o descrever.
Olhei para a frente. Ao fundo, vi um vulto, que não consegui distinguir bem por entre a vegetação. Este levantou uma mão o mais alto que pôde e fez-me sinal para ir ter com ele. Bom, que teria eu a perder? Peguei em mim e segui aquele vulto estranho. Quando deixei de o ver, notei que estava numa praia, e uns metros à frente estava uma pequena cabana. Vi que deitava fumo pela pequena chaminé, logo, devia estar gente lá dentro. Fui até à porta e bati. *Noc noc noc*. Passou um bocado até que uma mulherzinha franzina me viesse abrir a porta.
- Olá. Quem és? – Perguntou-me ela com uma voz inocente.
- Olá. Sou a Rita Silva.
- Ah, já ouvi falar de ti. Entra, sê bem-vinda. – Disse-me com um grande sorriso.
Mas afinal o que quereriam de mim? Onde estava mesmo eu? Será que aquela mulherzinha me poderia responder? Aliás, quem era mesmo aquela mulher? Tantas perguntas sem resposta…
- Senta-te! – Disse-me, aparentemente bastante contente com a minha visita. – Bom, deves estar a pensar porque é que estás aqui. Pois bem, a resposta vai descer as escadas em breve. – E fez-me um grande sorriso.
- Mas afinal onde estou eu? – Perguntei.
- Estás numa floresta à qual chamamos Kizssade. É o sítio mais puro deste mundo. Aqui, apenas habitam os kizssos.
- O que são kizssos?
- Já vais saber. – Aquele sorriso dava-me esperança, num sentido que não conseguia compreender. Era… Reconfortante, de certo modo.
Passados uns minutos, ouvi passos no piso de cima. Olhei automaticamente para as escadas
- Emilia, a Rita já chegou?
- Sim, está aqui. – Respondeu, sempre amável.
Ao longe vi o que parecia ser o rapaz mais lindo que alguma vez tinha visto. Tinha olhos azuis, cabelos loiros, curtos e espetados de maneira irregular.
- Bem-vinda à minha cabana, Rita! A Emilia ainda não te esclareceu bem, estou a ver – E lançou-lhe um sorriso maroto, pelo canto da boca. Nem pensei muito bem no que ele tinha dito, distraída com aquele gesto.
- Bom, Rita, tenho algo a transmitir-te. Os kizssos são uma espécie de seres mitológicos, como os vampiros. A única diferença é que nos alimentamos da luz do sol, voamos e teletransportamo-nos com os pensamentos. De resto, temos a aparência de um humano normal, daí no mundo onde tu vives existirem muitos deles sem saberes.
- Mas… Porque me estão a contar isto tudo a mim?
- Porque tu foste escolhida para te juntares a nós.
- Mas porquê eu? Como é que vim aqui parar?
- Eu sou o presidente da escola para kizssos de controlo e educação. Quando jovens como tu sofrem a mudança, vão para a nossa pequena escola de etiqueta, onde aprendem como lidar com todos os poderes que têm. Eu, como presidente, tenho o poder de teletransportar-me, não só a mim, mas também quem eu quero. Daí estares aqui. Este não é um sonho, como o que tiveste no outro dia. Isto é a realidade. Daí esse corte que tens na mão. – E apontou para o corte que tinha feito com a pedra. Em seguida, estendeu a mão sobre a ferida e fechou os olhos. Senti uma dor insuportável. Assim que retirou a mão, a minha pele estava tão macia e sedosa como dantes. Nem sinal do corte profundo. Olhei para ele, espantada, e depois olhei para Emilia, para ver se também ela estava impressionada. Parvoíce a minha. Era óbvio que ela estava habituada àquilo tudo. Mas afinal, o que seria ela?
- A Emilia é apenas uma anã, Rita. Não tem qualquer poder especial.
Mas como é que ele sabia que eu tinha perguntado aquilo? De repente, começou a rir que nem um perdido. Mas que coisa! Quando finalmente se acalmou, explicou-me tudo:
- Alguns de nós, quando transformados, ganhamos poderes que a maior parte não tem. O meu é ouvir pensamentos.
“Mas então porque é que a Emilia está aqui?” Perguntei eu, em pensamentos.
- Porque nos apaixonámos. Somos casados há 5 anos. Bom, mas chega de novidades por hoje. Se precisares de alguma coisa, pensa em mim que logo lá estarei.
- Ok. Agora como volto para casa?
Ainda estava a acabar a frase, já estava deitada em cima da minha cama, como se nunca tivesse saído de lá…
- Rita Silva?
- Presente!
Os dias eram sempre assim. Ai, detesto a rotina! Nada muda, tudo se mantém… Gostava de mudar, nem que fosse só uma vez.
Bom, 9º ano, último dia na minha escola. Estamos na última aula do ano, antes dos exames finais, e, para me distrair da matemática, que é a pior disciplina que se pode ter, peguei no meu caderno, passei umas folhas à frente, e fiquei a rabiscar até ao fim da aula.
Saí da sala, e olhei em volta, recordando os momentos que ali passei. Agora ia mudar de escola, separar-me dos meus amigos, começar uma nova etapa.
- Então Rita, está tudo bem? – Perguntou-me a Joana, a minha melhor amiga.
- Sim, está. Estava só a lembrar-me de tudo o que passámos aqui…
- Ah, pois… Também vou ter saudades disso tudo. Muitas mesmo.
Este ano foi o último que passámos juntas. Ela vai mudar-se para longe. Claro que não vamos perder o contacto, mas vai custar muito deixar partir parte do meu coração…
Bom, hoje a nossa turma ia fazer um jantar de despedida, mas eu e a Joana decidimos que passar esta noite juntas seria a melhor opção, talvez uma melhor forma de nos despedir-mos. Conheço a Joana desde o 1º ano e fomos sempre inseparáveis, até ao dia em que me disse que no final do ano lectivo ia mudar de casa. Fiquei num estado lastimável, e chorámos as duas durante dias.
Mas contado desta maneira parece que a minha vida é um desastre. Bom, em parte é, mas hoje iria ter a melhor noite de sempre e nada me poderia estragar o momento com a minha melhor amiga.
Ia no caminho para casa dela, numa rua mal iluminada e muito tranquila… Ouvia o meu coração a bater levemente. Os meus passos leves ecoavam pelo céu fora e a minha respiração era calma. Toda esta harmonia de sons foi interrompida com o som de algo mais nervoso, mais acelerado, atrás de mim. Não tive coragem para me virar logo. Continuei a andar, até que ouvi uma respiração no meu ouvido. Congelei. Depois, um leve sussurro ecoou no meu ouvido, qualquer coisa como “Não vives onde pensas viver”. Depois tudo desapareceu. Tudo à minha volta caiu em espiral.
Acordei ofegante, com suor a escorrer-me pela cara. A Joana olhou-me, preocupada.
- Rita, o que aconteceu? Estás bem? Conta-me! Fala!
- E…Eu… Não sei bem… Que horas são?
- 5 da manhã. Adormecemos à cerca de uma hora. Mas isso não interessa. O que aconteceu?
- Tive um sonho muito estranho…
- Temos todo o tempo do mundo, podes contar-me. – Disse-me ela, com um sorriso, e afagando-me a cara.
Eu ainda estava a reflectir bem no que me tinha passado na cabeça. Será que me lembrava de tudo? O que quereria aquilo dizer? Seria um sinal? Qualquer coisa importante, que me mudaria a vida? Não faço ideia…
- Só sei que ia numa rua… E de repente oiço barulhos atrás de mim… Alguem me chegou ao ouvido e disse…
- … Sim?
Não sei o que aquilo queria dizer… “Não vives onde pensas viver”…
- Rita…?!
- Ah, desculpa… Disse “Não vives onde pensas viver”…
Fez-se um minuto de silêncio. Tudo me passou pela cabeça.
- Rita, foi só um sonho, não dês importância a isso. A sério, volta a dormir. Eu estou aqui se for preciso, ok? É só chamar…
- Ok. – Disse, apática da cabeça aos pés.
- Boa noite, meu amor.
- Boa noite, Ju…
Deitei-me de lado, fechei os olhos e mergulhei de novo no escuro.
Respiro fundo.
Sinto o ar a passar-me na garganta. Fresco… Puro…
Respiro-o pela última vez. Só mais uma vez. Tudo vai mudar.
- Rita, estás pronta? Tens a certeza que queres fazer isto?
Relembrei todas as consequências que os meus actos iriam ter. Confirmei com a cabeça.
Senti um picada sufocante no pé, e várias flashadas de electricidade percorreram o meu corpo, compassadamente. Nada era capaz de descrever esta dor imensa. O meu corpo tremia sem eu o poder controlar…
De repente, tudo terminou. Quanto tempo terei aguentado naquela dor? Umas horas? Uns dias? Talvez meses, talvez anos? Não sei. Mas também não posso perguntar, pois não sinto o corpo, não o consigo controlar.
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